Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
A indisciplina se incuba no ânimo do ser auspiciada pelo instinto, em permanente rebeldia contra o ordenamento da vida imposto pela convivência humana, para propiciar o desenvolvimento harmônico de suas atividades.
É esta uma falha que debilita consideravelmente os propósitos perseguidos, ou os entorpece, já que, em razão da habitual despreocupação que promove com respeito à ordem que a realização de todo empreendimento ou projeto demanda, retarda sua consecução, dificultando-a e, em consequência, diminuindo o entusiasmo que provavelmente animou seu início.
Corrigir desde a infância a indisciplina, persuadindo a criança das vantagens de submeter-se a uma forma organizada de viver e induzindo-a aos bons hábitos, é cooperar na formação de um indivíduo socialmente apto e moralmente sadio. Crescerá protegida contra os desvios que ameaçam a juventude e que fomentam a desordem e a negligência.
A indisciplina, com seus fascinantes argumentos, faz perder muito tempo
A indisciplina dissocia as ideias, promovendo entre elas um forte antagonismo. Poder-se-ia dizer que a mente do indisciplinado é uma fortaleza cuja guarnição se acha em contínua rebeldia.
Aqueles que se encontram nesse estado confundem indisciplina com liberdade e, sob pretexto de defendê-la, não fazem caso das leis e normas que regem a vida civil, pretendendo demonstrar que são donos absolutos de sua vontade.
Em muito se beneficiará o indisciplinado se enxergar até que ponto a deficiência dificulta seus afazeres diários, visto que, quando ela governa, pouco vale ao indivíduo ser ativo, porquanto a indisciplina subtrai ao esforço grande parte de energia, fomenta a irregularidade na ação, a descontinuidade, a sobrecarga de trabalho, e tudo isso conspira contra a condução feliz do que se tem em mãos.
Poucas vezes a indisciplina atua sozinha. Geralmente se associam a ela a desobediência, a inadaptabilidade, a negligência, a indiferença, a distração, etc. No melhor dos casos, acusa tão-só falta de domínio, de empenho e ainda de capacidade para regular a própria diligência e torná-la mais ágil, produtiva e estimulante.
Há duas classes de disciplina aplicáveis a esta deficiência: a rígida e a elástica. Disciplina rígida é a que se cumpre ao pé da letra, sem admitir circunstâncias capazes de fazer variar as causas que deram origem a esta ou àquela norma, afazer ou conduta. Disciplina elástica é a que cada qual aplica com suavidade e firmeza a seu modo de ser, até acostumar a vida a um ritmo regular e duradouro. Nós optamos pela última.
Seja como for, tenha-se sempre presente que a indisciplina, com seus fascinantes argumentos, faz perder muito tempo. A nosso juízo, o indisciplinado o é, antes de mais nada, em seus próprios pensamentos. É aí onde se há de estabelecer a disciplina; é aí onde se há de pôr ordem. O esforço em tal sentido não fatiga, se for levado em conta o bem que se persegue.
(Texto extraído do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, pág. 102)
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