A trágica explosão na região portuária de Beirute, que deixou mais de 100 mortos e cerca de 4 mil feridos na última terça-feira (04), tem semelhanças com o incidente ocorrido no porto em São Francisco do Sul, em setembro de 2013. É o que explica o diretor da Academia de Perícias do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP/SC), Rogério Tocantins.
“As informações que chegaram ainda são muito dispersas, mas de acordo com o que já foi divulgado, na explosão de Beirute, há a presença de nitrato de amônio, não se sabendo ainda ao certo tratar-se de nitrato de amônio puro ou de compostos fertilizantes à base de nitrato de amônio”, afirma.
Segundo ele, os fertilizantes à base de nitrato de amônio entram em decomposição térmica em temperaturas acima de 210°C. Como o fertilizante não é um material combustível, geralmente essa decomposição térmica ocorre quando há um incêndio (ou uma outra fonte de calor) nas proximidades da carga de fertilizante. Os fertilizantes à base de nitrato de amônio com concentrações superiores a 60% de nitrato de amônio em sua composição possuem risco de explosão, principalmente quando envolvidos em situações de incêndio, que promove uma súbita decomposição térmica que pode evoluir para uma detonação, como ocorreu em Beirute.
SÃO FRANCISCO DO SUL
Tocantins destaca que em São Francisco do Sul foi semelhante a questão da decomposição térmica, porém o fator que desencadeou a decomposição térmica autossustentável foi uma combinação de fatores de acidez produzida pela absorção de umidade, aliada à presença de cloreto, catalizador da decomposição térmica. Fazendo assim com que a decomposição acontecesse em temperaturas próximas de 50°C.
“Apesar de ter sido noticiado como um ´incêndio químico’ não houve incêndio, não houve presença de chama. O material fertilizante de São Francisco do Sul tinha uma composição de 60% de concentração de nitrato de amônio, sendo, portanto, passível de explosão”.
Isso significa que o fato de não ter ocorrido incêndio em São Francisco do Sul foi fator preponderante para que a tragédia não fosse ainda maior.
“Se tivesse ocorrido um incêndio em São Francisco do Sul, a explosão teria uma magnitude duas ou três vezes maior que a de Beirute, já que havia 10 mil toneladas de material em São Francisco do Sul contra 2,7 mil toneladas em Beirute”, detalha o diretor do IGP.
Ocorrência em São Francisco do Sul em 2013. (Foto: Divulgação/CBMSC)
IMPACTOS NA POPULAÇÃO
Conforme o Corpo de Bombeiros Militar de SC, na ocasião os moradores da cidade precisaram evacuar o local, inclusive os pacientes de um hospital, tamanho risco provocado pela reação. Mais de 150 pessoas foram hospitalizadas em Santa Catarina devido a intoxicações e mais de 10 mil foram atingidas pela fumaça em sete bairros do município.
Foram necessários três dias de combate, em que foi evitada uma possível explosão. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou que a fumaça de São Francisco do Sul chegou ao litoral sul de São Paulo.
Em Santa Catarina a situação foi controlada no dia 27 de setembro, utilizando técnicas para resfriamento do galpão - que chegou a 265 graus de temperatura, com a participação de 200 bombeiros, entre outras instituições.
NITRATO DE AMÔNIO
A substância se apresenta como pó ou grânulos solúveis e não deve ser aquecida. Quando exposto a temperaturas acima de 280°C, as reações podem resultar em uma explosão. O material, além de ser utilizado na fabricação de fertilizantes, é um importante insumo na fabricação de explosivo.
ARMAZENAMENTO
Rogério também alerta sobre a atenção para a necessidade de se reforçar o controle das cargas transportadas e armazenadas. “Depois do caso em São Francisco houve uma regulamentação de controle do armazenamento deste material. Esse material não pode ser armazenado em grande quantidade”, lembra.
PREVENÇÃO
É de extrema importância frisar que em São Francisco do Sul não haviam sistemas preventivos e nem liberação junto ao Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) para o funcionamento do galpão. Isso quer dizer que a ocorrência poderia ter sido minimizada em caso de regularização.
Os depósitos se constituem em uma ocupação específica e precisam seguir as normas segurança contra incêndio e pânico, apresentando os sistemas preventivos, como extintor de incêndio, saídas de emergência, sistema hidráulico preventivo, sistema de alarme, sinalização para abandono de local, iluminação de emergência nos ambientes de circulação e em alguns casos sistemas de chuveiros automáticos para combate a incêndios. Além disso, neste caso, caberia à empresa ter uma brigada de incêndio.
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