O campo está cada vez mais digital. Uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), junto com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. Uma dessas inovações, que está ganhando cada vez mais espaço para a melhoria da lavoura, pode ser vista lá do alto. O uso dos Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), ou drones, une profissionais da Agronomia e da Tecnologia da Informação para uma produção mais assertiva, rápida e com menor impacto ambiental.
No domingo (13) comemora-se o dia do Agrônomo e também do Programador, por isso vamos contar um exemplo de pesquisa realizado aqui na Unochapecó, que mostra como esses profissões podem se complementar. E é claro, envolve o uso de drones na agricultura. Para se ter uma ideia, em 2018, uma estimativa da consultoria PwC apontou que 40% dos drones no Brasil eram utilizados no agronegócio. E foi o uso desse aparelho na agricultura que focou uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão da Inovação (PPGTI) da Unochapecó, concluída no início deste ano.
O analista de sistemas e agora mestre Douglas Felipe Hoss, orientado pelo professor e doutor em agronomia, Gean Lopes da Luz, desenvolveu uma pesquisa a partir da dificuldade dos agrônomos em avaliar o estado nutricional das plantas e, consequentemente, o fornecimento de nutrientes de maneira adequada. "Diante disso, ao observar que novas tecnologias estavam sendo utilizadas e ganhando mercado em diversas áreas, avaliou-se a utilização de drones e câmeras multiespectrais na agricultura. Assim, o professor Gean submeteu o projeto de pesquisa para a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), que tinha como objetivo utilizar drones e câmera multiespectral para avaliar o estado nutricional de plantas de milho", explica Douglas.
Com o projeto aprovado, foi possível adquirir os equipamentos: drone, câmera RGB e câmera multiespectral. "Já tivemos uma dissertação de mestrado defendida, um relatório de bolsa de graduação entregue, dois TCCs defendidos e hoje temos uma dissertação de mestrado em andamento, uma por iniciar e sete TCCs em andamento com foco em drones na agricultura, tanto no curso de Agronomia quanto nos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Já temos diversos trabalhos publicados em congressos, publicamos artigo na segunda melhor revista de ciências agrárias do país e tivemos o segundo melhor trabalho da Reunião Técnica Sul-Brasileira de Milho e Sorgo, com essa pesquisa do Douglas", relata o professor Gean.
RESULTADOS
A partir das análises obtidas na pesquisa, observou-se que, com a utilização de drone, câmeras multiespectrais e processamento computacional, é possível obter o estado nutricional das plantas de milho com até 92% de precisão, em voos realizados a 120 metros de altura em relação ao solo.
"Em nossa pesquisa especificamente, o drone foi utilizado para verificação do estado nutricional. Para sobrevoar uma área de aproximadamente 20 hectares, levou menos de 30 minutos. Logo após isso, já é possível realizar o processamento das imagens em um computador e obter informações, como por exemplo, o índice de nitrogênio nas plantas. Com isso, o produtor pode realizar aplicação com quantidades adequadas de insumos, tratando cada talhão da lavoura de maneira específica. Existem outras formas de verificar estado nutricional, como a análise laboratorial, porém requerem extração de amostras de plantas e exige maior tempo quando comparado a utilização de drones e câmeras multiespectrais", acrescenta Douglas.
O professor Gean complementa que os drones facilitam muito a detecção de variabilidades na lavoura, possibilitando observações periódicas que permitem perceber anomalias antes mesmo que estas apareçam aos olhos humanos. "O uso de drones também permite a geração de mapas que aumentam a precisão da semeadura e da adubação das lavouras, surgindo hoje uma nova função, a de pulverização de defensivos, a qual está sendo validada e possui grande potencial para nossa região".
PROFISSÕES CONECTADAS
A inovação parte da interdisciplinaridade, e a agricultura é um campo fértil para o trabalho dos programadores, visto que muitos dos problemas do campo dependem de tecnologias que hoje os agrônomos não dominam de forma independente. Porém, segundo Gean, com a soma dos conhecimentos das duas profissões, as possibilidades de soluções se ampliam, gerando ganhos para toda a cadeia do Agro.
"Já existem milhares de startups do Agro, chamadas AgTechs, que juntam os conhecimentos agronômicos aos da computação para gerar soluções que nos ajudam a produzir mais alimentos com menor investimento econômico e ambiental. Temos uma forte linha de pesquisa no PPGTI que faz a ponte entre universidade e empresas, promovendo inovações e a geração de tecnologias que se disseminam em nossa região e em nosso país. Já temos dois processos de patente na área e diversas parcerias de pesquisa com empresas regionais e nacionais".
Douglas assinala que, como atualmente há maior necessidade pela produção de alimentos e ganhos produtivos, o rápido acesso à informação proporciona, também, uma rápida tomada de decisão, que acarreta em benefícios neste processo. "A relação entre as duas profissões está cada vez mais próxima, visto que ano após ano há cada vez mais investimento em pesquisas para produção de tecnologias aplicadas à agricultura, seja em inovação de máquinas (que possuem centenas recursos computacionais, como controladores e entre outros) como em software para detecção de pragas, doenças, estado nutricional, entre outras aplicações".
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