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O RECOMEÇO

Haitianos que estavam desempregados se casam e iniciam trabalho em Cordilheira

Imigrantes haitianos conheceram as faces do abandono e da acolhida em Xaxim
Por: LÊ NOTÍCIAS
07/07/2017 15:54 - Atualizado em 07/07/2017 16:12
Odilien e Silvina acompanhados da família Veiga, de Xaxim, que lhes deu moradia por 60 dias (Foto: Felipe Giachini) Odilien e Silvina acompanhados da família Veiga, de Xaxim, que lhes deu moradia por 60 dias (Foto: Felipe Giachini)

Por Janquieli Ceruti

A personificação do amor aconteceu no início deste mês em Xaxim. O casamento do casal Odilien Maitre e Silvina Vixamar marcou o recomeço na vida dos imigrantes haitianos que, juntos desde 2005, buscam dias melhores em terras brasileiras. Em junho, o contou a batalha incessante dos dois na procura por emprego. Em Xaxim há dois meses, Odilien deixou a cidade de Capinzal, onde trabalhava em um frigorífico, e acreditou na promessa de amigos de que em Xaxim havia muitas outras opções de trabalho. Esperançoso, mandou todo o valor do acerto com a antiga empresa ao Haiti para que Silvina também viesse ao Brasil para morar em Xaxim. A ideia era que os dois começassem a trabalhar imediatamente para que as economias sustentassem os três filhos, que moram com a avó paterna no Haiti, até que houvesse condições de trazê-los para junto dos pais. Mas isso não aconteceu e após dez dias passando frio e fome no Terminal Rodoviário de Xaxim Odilien e Silvina mudaram-se para a casa de Veiga, um representante comercial que mora no bairro Santa Terezinha e que sensibilizado levou os dois para dentro do próprio lar.

SONHADO EMPREGO

Quando o conversou com Odilien, que arriscou um pouco de português durante a entrevista, era nítido o desespero nos olhos do homem que todos os dias seguia até o frigorífico da cidade, mas ainda não havia conseguido emprego. O apelo foi feito e chegou aos olhos da pessoa certa. Um produtor de Cordilheira Alta leu a matéria e contratou o casal para trabalhar no sítio que, conforme Veiga, produz mudas frutíferas. E, além dos salários, eles não terão custos com aluguel, água e luz.

Com o emprego garantido, antes da mudança Odilien fez questão de se casar com Silvina. Assim, recomeçou a correria de Veiga pelos comércios da cidade. Se antes ele batia em busca de comida, roupas e eletrodomésticos ao casal, que por mais de um mês e meio ficou morando na garagem da família, agora a necessidade era por um vestido de noiva. Veiga bateu em muitas portas até conseguir um vestido com aluguel mais em conta, que foi pago pelos próximos do representante comercial. Já o terno foi doado por um lojista da cidade.

GRANDE DIA

Na igreja, no dia 1º deste mês, tudo estava preparado para oficializar a união dos dois. Mas, não eram aqueles adereços todos de um casamento como estamos acostumados a ver. No grande dia de Odilien e de Silvina, havia balões de festa no teto, nas cores lilás e branca, um ramo de crisântemo lilás nas cadeiras de plástico e uma coberta, que serviu de tapete, no altar improvisado. Em meio a tanta humildade, os convidados foram chegando à pequena igreja evangélica nas proximidades do bairro Santa Terezinha.

Na porta, Odilien demonstrava grande ansiedade. Por volta das 18h30 da noite de clima ameno, de véu e grinalda Silvina entrou pela porta. Por duas horas, os cerca de 30 convidados, metade imigrantes e metade brasileiros, presenciaram o espetáculo do amor entre duas almas. Com muita música ao vivo, cantadas por grande parte dos fieis da igreja, conselhos, rezas e bênçãos, a celebração em francês selou o compromisso do apaixonado casal.

Cerimônia encerrada, as cadeiras foram afastadas e a música continuou. Mais soltos, os convidados interagiram e apreciaram o humilde, mas saboroso cardápio. Um pequeno bolo de glacê branco e garrafinhas de refrigerante adoçaram ainda mais a noite onde o sentimento do amor tornou-se palpável ao abraçar os noivos.

Com o peito repleto de felicidade, Odilien e Silvina retornaram à casa de Veiga, onde o caminhão de mudança chegaria no domingo de manhã, com a certeza de que ainda há muito bem no mundo e que a alegria só estava começando. Do piso gelado da rodoviária ao altar, ao novo lar, ao recomeço. A história do casal, que passou por Xaxim para deixar a mensagem de fé aos habitantes da terra e também aos seus imigrantes, parece ter ganhado um final feliz graças à solidariedade, acolhida e ao amor, que se manifestaram no coração de diversas pessoas que, mais do que torcer, agiram para que os sonhos fossem possíveis.


Relembre: casal de imigrantes implora por emprego em Xaxim


Créditos das fotos: Janquieli Ceruti e Fleipe Giachini


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