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ESPECIAL DIA DO DIPLOMATA

Diplomata Riane Tarnovski relata superação e diálogo para encarar desafios da carreira

Arquivo Pessoal Desde 2016 na carreira diplomática, atualmente Riane Tarnovski atua junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça Desde 2016 na carreira diplomática, atualmente Riane Tarnovski atua junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça

Por Vitória Schettini

A carreira diplomática é caracterizada por intermediar questões administrativas, culturais, ambientais, econômicas e políticas com outros países e organizações internacionais, representando os interesses do Brasil mundo afora. Sendo o dia 20 de abril lembrado como o Dia do Diplomata, o Lê NOTÍCIAS entrevista a diplomata catarinense Riane Tarnovski, que atualmente trabalha na Suíça.

Nascida em Blumenau, no Médio Vale do Itajaí, Riane relata que nem sempre teve a carreira diplomática como objetivo de profissão a seguir. Segundo ela, os pais, de origem humilde, proporcionaram, a ela e aos dois irmãos, o incentivo aos estudos e à educação. "Desde muito jovens, meus pais começaram a trabalhar. Meu pai, que não conseguiu completar o ensino superior, sempre trabalhou na indústria têxtil local e a minha mãe, que cresceu e se criou no meio rural, completou o ensino superior em Letras e trabalhou no banco do estado, onde se aposentou. Durante a minha infância e adolescência, estudei na Escola Barão do Rio Branco, cujo nome coincidentemente já marcava meu destino”, relata a diplomata, se referindo a José Maria “Juca” da Silva Paranhos Júnior, considerado o patrono da diplomacia brasileira e que atuou como chanceler entre 1902 e 1912.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

De acordo com ela, na escola, sempre foi uma estudante de excelência, tendo predileção pela língua portuguesa e, depois, por idiomas estrangeiros em geral. Posteriormente, antes de completar 18 anos, Riane conseguiu ingressar no curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, se interessando pelo estudo do direito público. “A escolha pela faculdade de Direito não foi óbvia, nem completamente direcionada. Eu ainda não sabia a profissão que queria exercer, contudo, mais tarde, escolhi pelo serviço público”, ressalta ao Lê NOTÍCIAS.

Durante o oitavo semestre da graduação, a blumenauense realizou um intercâmbio para a Itália, na Universidade de Pádua, momento em que surgiu a ideia de seguir a carreira diplomática. “No início, eu não acreditava muito no êxito da empreitada, por considerar o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) extremamente difícil, improvável e elitista. Porém, ao me informar sobre cursos preparatórios, fases da prova e diplomatas recém-aprovados, percebi que a aprovação poderia ser possível”, expõe.

Em setembro deste ano, a diplomata compartilha que começará um mestrado em Relações Internacionais, com foco em sustentabilidade e finanças, pelo Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais - “The Graduate Institute” (IHEID), para o qual foi recentemente aprovada.

ESCOLHA PELA CARREIRA

Na experiência internacional, Riane percebeu que tinha afinidade por temas ligados às relações internacionais. “Em Pádua, tive a disciplina de Direito da União Europeia, que me chamou a atenção para a integração regional. Tive a oportunidade de manter contato não apenas com italianos, mas com estudantes estrangeiros do programa Erasmus, o que aguçou minha curiosidade pela área”, lembra Riane, que fala cinco idiomas, sendo português, inglês, espanhol, francês e italiano.

“Em relação ao CACD, eu percebi que não se tratava de um privilégio, mas de muito esforço, dedicação e investimento (em todos os sentidos). Então, decidi ter uma conversa séria com meus pais, de quem eu necessitaria apoio financeiro para o projeto. Eles, possivelmente sem entender bem a dimensão da caminhada, apoiaram-me”, revela.

A sua preparação para o concurso do Instituto Rio Branco (IRBr) se iniciou após a formatura da faculdade, quando já estava matriculada em curso preparatório para o CACD. “Na época, eu fiz um concurso para analista jurídico do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e fui aprovada. Feliz e receosa ao mesmo tempo, em função da redução do tempo de estudo, percebi rapidamente que esse trabalho talvez tenha sido o maior impulsionador na minha aprovação. Eu tive de realizar um planejamento de estudo sério e focado, com apenas quatro horas de estudo diário. De quebra, eu pude respirar aliviada sobre a questão financeira, o que trouxe um conforto psicológico não negligenciável”, destaca.

PREPARAÇÃO AO CONCURSO

O concurso de ingresso na diplomacia brasileira é considerado um dos mais difíceis do país, devido à exigência de conhecimentos aprofundados em Direito, Direito Internacional, Economia, Língua Inglesa, Língua Espanhola, Língua Francesa, Língua Portuguesa, Geografia, História Mundial, História do Brasil e Política Internacional. Realizado em três etapas pelo Instituto Rio Branco, que fica em Brasília (DF), o CACD é aplicado todos os anos e em todas as capitais estaduais, tendo uma grande concorrência.

A catarinense conta que a preparação ao CACD foi custosa, com altos e baixos emocionais e muita disciplina. “Demorei a entender que, sem planejamento, não se chega a lugar algum e que ter ótimos professores faz muita diferença. Além disso, eles não estão concentrados num único curso preparatório e, às vezes, a didática de um não corresponde às suas necessidades. Estudei quase quatro anos até passar, em 2015”, recorda.

Na terceira tentativa, em 2014, a diplomata relembra que ficou na 33ª posição e sentiu um grande desânimo, considerando que os estudos estavam bem, mas não havia atingido o seu objetivo. “Mesmo me saindo bem, não foi suficiente naquele ano. Após, me permiti um mês de férias dos estudos desde o início da preparação, ficando um mês inteiro sem estudar. Isso foi essencial para a saúde mental, porque, após, retornei aos estudos muito mais animada e focada em analisar meus erros no ano anterior”, enfatiza.

Sendo mais criteriosa em relação às provas, Riane voltou os estudos aos assuntos e temas os quais sentia que tinha desvantagem, realizando a prova de 2015, em que foi aprovada. “Consegui passar na 7ª posição, mesmo dando muita coisa errada. Eu não sabia a resposta da prova de Direito, eu comecei a responder uma questão de Política Internacional tendo lido errado o enunciado. Contudo, tive sorte e um empurrãozinho de Deus para reler o enunciado e retificar o que estava escrevendo”, comenta.

Aprovada no concurso, Riane iniciou os estudos do Curso de Formação de Diplomatas pelo Instituto Rio Branco, em 2016. Ela conta que o período de aulas foi mais importante para criar laços com os colegas de turma e entender melhor o funcionamento do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do que propriamente o aprendizado em termos acadêmicos. Ela ressalta que as aulas de idiomas, em especial, foram enriquecedoras e estimulantes para aprimorar a comunicação diplomática.

EXPERIÊNCIAS MARCANTES

A diplomata teve a oportunidade de vivenciar experiências marcantes ao longo da carreira, como quando a sua turma do IRBr foi escolhida para ajudar no trabalho das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro (RJ). No evento, Riane pôde prestigiar o país, assistir a diversos jogos e provas, ao mesmo tempo em que aprendeu muito sobre cerimonial e protocolo.

De acordo com ela, um segundo momento foi o período em que, quando trabalhava na área de Mercosul, houve o agravamento da tensão política na Venezuela. “Naquela ocasião, os Estados-Partes decidiram suspender o país do bloco em razão da ruptura da ordem democrática no marco do Protocolo de Ushuaia, em agosto de 2017. Participar dos debates e da elaboração de documentos críticos que culminaram em referida decisão foi muito enriquecedor”, ressalta.

Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, Riane se voluntariou para trabalhar no Grupo Consular de Crise para assistência a viajantes brasileiros afetados, sobretudo na América do Sul. Lá, teve a chance de aprender mais acerca do trabalho consular e o auxílio direto que o Itamaraty presta aos brasileiros no exterior, além de contribuir para que aqueles brasileiros pudessem voltar com segurança ao país.

A catarinense já serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, na Argentina, entre 2018 e 2019. Desde setembro de 2021, ela trabalha na Missão do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça, sendo responsável por temas de solução de controvérsias, reforma da OMC e Encontro Anual em Davos do Fórum Econômico Mundial.

MENSAGEM DE INCENTIVO

Às pessoas que sonham com a carreira e aos aspirantes à carreira diplomática, a diplomata catarinense deixa uma mensagem de incentivo. “Primeiramente, informe-se bem sobre a carreira e, depois, sobre o concurso. Uma vez tomada a decisão, seja persistente e disciplinado(a) com seu planejamento e dedicação. Não se esqueça de que realizar exercícios e simulados são fundamentais, pois só conteúdo não vai te fazer passar na prova. Desejo sorte e felicidade no caminhar a todos os cacdistas!”, finaliza Riane.

DIA DO DIPLOMATA

Criado em homenagem ao diplomata e chanceler José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco, o dia 20 de abril foi instituído como o Dia do Diplomata por meio de um decreto, em 1970. Nascido em 20 de abril e formado em Direito, Juca Paranhos atuou representando o Brasil em 1876 como cônsul em Liverpool, na Inglaterra e esteve à frente da Missão do Brasil em Berlim, na Alemanha, de 1901 a 1902. Antes de ser diplomata, o Barão do Rio Branco foi deputado e jornalista.


Conheça também a história da diplomata chapecoense Fernanda Mansur Tansini, em entrevista de 2018 ao NOTÍCIAS e a trajetória do diplomata Taciano Zimmermann, de Rio do Sul.


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